terça-feira, 9 de agosto de 2011

No sangue

"No sangue. A inspiração está no sangue..."

Pobre diabo. Repetia aquela frase sempre que os níveis de adrenalina subiam por algum estímulo sensorial qualquer. Apesar de afirmarem que  o Sr. Arimatéa estava em estado de coma, algo me dizia que ele fingia. Aquele velho maldito sempre dissimulava.

Ainda me lembro daquele lençol. Era de seda, rosa. O ar tinha uma cor laranja hoje e ela estava deitada com sua camisola. Aquela pequena era tão inocente. Sua pele estava turva, com pensamentos nebulosos que invadiam a minha consciência por vários ângulos. Até que subitamente pude perceber que da calcinha infantil transparecia sua perfeição. Quanto alívio. Meus dedos, meus lábios e minha mente sentiam-se tão confortáveis naquela temperatura morna de pele. 

"No que será que ele está delirando?"

Me perdi no instante que o velho abriu os olhos. Ele não me enxergava. Passei a mão inúmeras vezes e nenhum sinal de reflexo. Ele não estava fingindo. 


A minha satisfação não era um alvo fácil, sempre queria mais. Da pele alva eu sentia o cheiro da volúpia, era muito volátil. Aquele cheiro inquieto, a sua onda viril, penetrava pelos meus dedos que traziam a dor, o constrangimento e o sangue. Vivo, lambia-me os  dedos satisfeitos. O ar que era laranja se tornou vermelho e tenebroso, mas eu não conseguia vislumbrar o terror quando sentia que dos meus dedos escorriam o líquido morno que lhe transcorriam às pernas de porcelana. Levei meus dedos até boca e senti borbulhas embriagadas de desejo. Num mero instante, fugaz, me tomou a cascata da satisfação. No sangue. A inspiração está no sangue. 


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